CORONAVÍRUS: a luta em defesa da vida é uma luta de classes
Via: Intersindical.org.br
A primeira vítima do coronavírus a morrer no Brasil era um porteiro aposentado de 62 anos, as informações que chegaram no dia 19 de março revelam que a família só foi avisada da contaminação na hora do velório. Os pais do porteiro, que têm entre 82 e 83 anos, estão internados; até agora ninguém da família que morava com o porteiro teve garantido a realização de exame para saber se também estão contaminados.
A mulher que morreu no Rio de Janeiro tinha 63 anos, morava numa comunidade muito pobre da cidade de Miguel Pereira, a 100 km da capital e trabalhava como empregada doméstica no Leblon. A patroa viajou para Itália e quando voltou ficou em quarentena em casa, mas não dispensou a trabalhadora que morreu pela exposição forçada, e não teve como primeiro diagnóstico para o tratamento o contágio pelo coronavírus.
Todas as medidas anunciadas pelo governo Bolsonaro têm por objetivo principal proteger os lucros dos patrões e não a vida dos trabalhadores, desde a liberação para que os patrões não depositem FGTS por 3 meses, a proposta da suspensão dos contratos de trabalho pelo período que perdurar a crise (lay-off), o banco de horas, até a proposta de enviar ao Congresso Nacional Medida Provisória ou Projeto de Lei liberando os patrões para reduzir o salário dos trabalhadores em até 50%, e mais: a proposta do governo é que essas medidas sejam realizadas diretamente entre o patrão e o trabalhador, ou seja, a intenção é coagir o trabalhador e impedir os Sindicatos de defender os direitos dos trabalhadores. E já são várias as empresas que começam a demitir, ou seja, continuam seus negócios, exigindo de quem ficou mais produtividade e aproveitam a crise para demitir. Todas essas medidas do governo só têm um objetivo: garantir condições para reduzir salários, direitos e empregos para proteger os interesses patronais.
Para o Capital, a vida do trabalhador só vale para produzir os lucros dos patrões: seja nos EUA, na Itália, na Franca, no Brasil, em todos os lugares, os governos de plantão estão impondo medidas para garantir ao Capital sua sobrevivência, mesmo que isso signifique eliminar a vida de milhares de trabalhadores. É disso que se trata, quando os governos resistem em garantir medidas que suspendam as atividades seja nas indústrias ou nos serviços. Na Itália, por exemplo, os operários tem realizado greves nas fábricas que se espalham em vários lugares do país, exigindo dos patrões e do governo a paralisação da produção, justamente para conter o contágio do coronavírus.
Quando os governos anunciam medidas dizendo que estão preocupados com as pessoas de mais de 60 anos, não é porque estão preocupados com essas vidas. A realidade é que não querem que essas pessoas, que fazem parte do grupo de risco, tenham que ser atendidas no sistema público ou privado de saúde, pois a prioridade é garantir o atendimento para aqueles que podem continuar a ser força de trabalho produtiva a ser explorada pelo Capital.
A cada novo anúncio, os governos dizem da importância de evitar a aglomeração, mas a vida real mostra que os trabalhadores continuam sendo obrigados a se amontoarem nos trens e ônibus.
Todos dias vomitam sua retórica, dizendo que além de evitar a aglomeração, é preciso garantir a devida higiene, mas como garantir isso, se a miséria se alastra?
Milhares de pessoas estão morando nas ruas, outras milhares tiveram seu auxilio do bolsa família cassado, e tantas outras vivem com menos de R$80,00 por mês. Se não conseguem nem colocar comida em casa, como vão ter condições de lavar as mãos várias vezes ao dia?
No início do século passado, a gripe provocada pelo vírus influenza, conhecida como gripe espanhola, matou milhões de pessoas; no mesmo período, a primeira guerra mundial matou outros milhões. Depois da pandemia, foram criadas vacinas para combater o vírus influenza, ou seja, o Estado na sociedade dividida em classes está a serviço de garantir ações que protejam os negócios do Capital e não a vida dos trabalhadores e políticas públicas que garantam condições dignas de vida e trabalho para a classe trabalhadora.
Numa sociedade dividida em classes, as vítimas das guerras, das pandemias, da ausência de políticas públicas, sempre serão os trabalhadores, os mais pobres, e a pandemia do coronavírus a cada dia escancara essa barbárie. Mais do que enxergar isso, é preciso transformar a indignação em luta contra esse sistema que se mantém vivo, matando os trabalhadores.
Se agora não podemos estarmos juntos nas praças e nas ruas, é o momento de mostrar que estamos juntos na preparação dessa luta contra um sistema que arranca nossos direitos e nossas vidas: o dia 18 de março seria um grande dia de manifestação nas ruas em defesa dos direitos, dos serviços públicos e pelas liberdades democráticas; manifestações aconteceram em vários locais de trabalho do serviço público e desde o dia 17 o que se vê e se ouve todas as noites são apitaços, panelas batendo e um grito de FORA BOLSONARO que ocupam as janelas de prédios, sobrados e casas por todo país, mas é preciso mais.
É hora de organizarmos a luta nos locais de trabalho que ainda não pararam, nos locais de moradia exigindo acesso à saúde e tratamento, ampliarmos a solidariedade aos nossos irmãos de classe que mais precisam de ajuda nesse momento, avançando na organização da luta para o momento em que vamos nos encontrar como classe trabalhadora nas ruas enfrentando os ataques dos patrões e do governo responsáveis pelas demissões, pelo aumento da miséria, da diminuição de direitos, de salários, do sucateamento dos serviços públicos.
VAMOS FORTALECER A LUTA POR:
- NENHUM DIREITO A MENOS: POR ESTABILIDADE NO EMPREGO, CONTRA A REDUÇÃO DE SALÁRIOS E DIREITOS
- CANCELAMENTO DE TODAS AS MEDIDAS DO GOVERNO QUE RETIRAM DIREITOS E PRECARIZAM AINDA MAIS OS SERVIÇOS PÚBLICOS
- POLÍTICAS PUBLICAS QUE GARANTAM SUSTENTO A QUEM ESTÁ DESEMPREGADO E NA INFORMALIDADE
- COMBATE À PANDEMIA: INVESTIMENTO NOS SERVIÇOS PÚBLICOS, QUE GARANTAM DESDE À REALIZAÇÃO DOS DEVIDOS EXAMES PARA DETECÇÃO DE CONTAMINAÇÃO E COMBATE À DOENÇA