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Trabalhadores protestam pelo pagamento de dívidas trabalhistas na Cobrasma

800 trabalhadores protestam na planta da Cobrasma pelo pagamento de dívidas trabalhistas


Na madrugada de quinta-feira, 22 de junho, centenas de trabalhadores permaneceram de braços cruzados no portão central da planta da Cobrasma, em Osasco, na Grande São Paulo.


Os cerca de 800 manifestantes fizeram um ato político com o objetivo de pressionar a empresa a pagar as dívidas trabalhistas aos 433 trabalhadores demitidos pela Cobrasma de Hortolândia, em 1998. Em dezembro de 1996, a empresa demitiu 1320 trabalhadores, no total.


Atualmente a dívida da Cobrasma chega aos R$ 35 milhões, e só não é maior porque em julho de 2002, por determinação judicial, a empresa entregou aos trabalhadores a posse da fábrica de Hortolândia, estimada em R$ 40 milhões.


A fábrica foi vendida para a Amsted Maxion em 2005,  parte dos direitos trabalhistas estão sendo quitados com a receita da venda parcelada.


Os processos tramitam na Justiça do Trabalho há mais de 10 anos, mas até o momento, muitos trabalhadores continuam no prejuízo. Alguns já morreram sem ver a cor do dinheiro tampouco seus direitos respeitados.


Por outro lado, o proprietário da Cobrasma opera através de várias  empresas ligadas à Cobrasma, entre elas Flanel, Flanaço, Hewitt Equipamentos e Flacamp em Hortolândia, além de contrato de arrendamento para Amsted Maxion, Intermarine, entre outras em Osasco.
 


O ato político contou com a presença de parlamentares e de várias entidades sindicais, da CUT e da INTERSINDICAL, além de entidades do movimento popular.


A empresa


A Cobrasma (Companhia Brasileira de Materiais) operava no Brasil desde a primeira metade do século XX, e tem como principais clientes os governos brasileiros e de alguns países da América Latina.


Produziu principalmente ao setor ferroviário, fundição de equipamentos e produção de vagões de carga e de passageiro, embora também tenha desenvolvido tecnologia e produzido equipamentos industriais para empresas estatais de grande porte, como Petrobrás, Furnas, Eletrobrás e Usina Nuclear de Angra dos Reis (RJ).


Empresa familiar, com origem nas tradicionais famílias Bueno e Vidigal, a Cobrasma é de propriedade de Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, ex-presidente da Fiesp entre os anos 1980 e 1986.


A primeira fábrica da Cobrasma localiza-se em Osasco e a segunda unidade em Hortolândia. Em 2005, a fábrica de Hortolândia foi comprada pela Amsted Maxion.


O líder do calote


Recentemente lançado, o livro sobre a atuação do empresário Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, escrito por um médico, conta sua trajetória pessoal desde o início dos anos 1980 e o destaca como “líder empresarial”.


Vidigal, que foi indiciado sob a acusação de crime do colarinho branco, em 1999 conseguiu, por meio do juiz Dr. João Carlos da Rocha Mattos ,(preso pela Operação Anaconda) o arquivamento do inquérito.


Sem contar a dívida milionária com os trabalhadores, escandalosamente, o livro termina na entrega da fábrica de Hortolândia, omitindo que a dívida trabalhista continua.


Lista de empresas que estão de alguma forma ligadas ao proprietário da Cobrasma, ou a membros da  família Vidigal:


Cobrasma S/A
Hewitt Equipamentos Ltda.
Lagidiv Administração e Participações Ltda. (o nome da empresa ao contrário lê-se Vidigal)
HBR Transportes Ltda.
Sociple Participações Ltda.
Socipa Participações Ltda.
Carmota Participações Ltda.
Arho Consultoria e Participações Ltda.
AGS Armazéns Gerais e Serviços Ltda.
Branquille Participações Ltda.
Flanel Indústria Mecânica Ltda.
Metalix Consultoria e Comércio de Metais Ltda.
FVL Industrial de Anéis e Flanges Ltda.
Flanaço Ligas Especiais Ltda.
Flacamp Indústria Mecânica e Serviços Ltda.


Entenda o caso:


Agosto de 1986 – A Cobrasma lançou na Bolsa de Valores de São Paulo, 25,5 bilhões de ações preferenciais ao preço de 21 cruzados por lote de mil ações.


O valor total da operação foi de mais de meio bilhão de cruzados. O sucesso das vendas foi impulsionado por uma projeção de lucros da Cobrasma, que chegou à promissora cifra de 286 milhões de cruzados no ano.


Um mês após as vendas, a Cobrasma anunciou uma nova previsão de lucros de apenas 56,5 milhões de cruzados. Com isso, as ações que foram vendidas a 21 cruzados valiam na verdade, 4 cruzados.


A estimativa é que naquele episódio, teriam ocorrido perdas de mais de 350 milhões de cruzados para as corretoras e os bancos de investimentos responsáveis, sem contar os prejuízos dos investidores individuais.


5 de março de 1991 – A Cobrasma entra com pedido de concordata nos cartórios da 1ª e 2ª Vara de Osasco(SP), alegando “desequilíbrio financeiro, sério e emergente, embora provisório”, além disso, argumentaram que a Cobrasma “ foi engolida, atropelada, pelo caos da economia nacional”.


Maio de 1989 – A Polícia Federal concluiu o inquérito policial sobre o caso Cobrasma. O empresário Luis Eulálio Bueno Vidigal e mais quatro diretores da empresa foram indiciados sob a acusação de crime do colarinho branco.


A lei 4792/86, que define os crimes contra o sistema financeiro nacional, prevê no artigo 10, pena de reclusão de um a cinco anos de multa.


O processo passou mais de dez anos perambulando nas gavetas e gabinetes do TRF e em 6 de dezembro de 1999, o juiz Dr. João Carlos da Rocha Mattos mandou arquivar o inquérito policial.


31 de outubro de 1994 – O presidente da Cobrasma, Luis Eulálio Bueno Vidigal, anunciou o fechamento da unidade da empresa de Osasco e que todas as suas instalações seriam cedidas ao governo como pagamento de uma dívida de 80 milhões de reais em impostos.


1996 – A Cobrasma demitiu 1320 trabalhadores da unidade de Hortolândia, alguns com mais de 30 anos de trabalho e não pagou seus direitos trabalhistas. (Estes estão representados no primeiro processo, onde parte da dívida foi paga com a posse da fábrica de Hortolândia, em 2002 )


1997 – A Cobrasma deu o segundo grande calote nos trabalhadores que não haviam sido desligados. Demitiu todos os restantes, entre doentes e acidentados, membros da CIPA e dirigentes sindicais de Hortolândia e Osasco. Estes ainda não receberam um único centavo de seus direitos, o processo continua na Justiça do Trabalho.
 

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