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Doença do trabalho cresce 19 vezes em 24 anos

“O trabalhador brasileiro anda cada vez mais doente. E a culpa é do emprego. Entre 1980 e 2004, a notificação das doenças relacionadas ao exercício da profissão aumentou 19 vezes.”


Há 26 anos, as moléstias profissionais representavam apenas 0,3% dos acidentes de trabalho; em 2004, atingiram 6% das notificações registradas formalmente, de acordo com as estatísticas da Previdência Social.


Do ponto de vista legal, acidentes de trabalho são os que ocorrem no trajeto e no exercício da função, além das doenças ocupacionais.


Classificada no fim da década de 1980 como moléstia ocupacional, há 15 anos uma doença lidera o ranking das enfermidades entre trabalhadores: é a lesão por esforço repetitivo ou os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort) -que, por sua vez, tem nas mãos do trabalhador um dos principais alvos.


Lesionados
Só na cidade de São Paulo, ao menos 310 mil pessoas têm o diagnóstico clínico de LER, segundo um levantamento feito pelo Datafolha em 2001 a pedido do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort (Prev LER).


Dessas, 23% disseram apresentar inchaço em alguma parte do corpo; 19%, dormência; e 15%, dores freqüentes. A maioria dos trabalhadores afirmou que não contou os sintomas ao chefe, mas a metade procurou um médico. E o que é mais grave: dos afetados, apenas 2% tiveram a emissão do CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho aos órgãos governamentais) feita pela empresa.
“Os números são maiores”, reforça Maria José Americano, presidente do Prev LER. “A subnotificação é grande devido à invisibilidade da doença”, acrescenta.


A pesquisadora da Fundacentro e coordenadora do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Maria Maeno, confirma: “Cerca de 50% das doenças notificadas por ano no Brasil são LER/ Dort. São 14 mil atingidos”.


Vergonha de mão dupla
Apesar da gravidade, assumir a enfermidade ainda é atitude evitada por empregados e empregadores. “O profissional se sente culpado. É um rótulo que fica na carteira”, aponta Americano.
“Ainda há preconceito”, completa Maeno. “Estar com LER significa, primeiro, a falência da política de prevenção da própria empresa; segundo, é um “mau exemplo” para os outros colegas.”


A dificuldade em assumir os sinais da doença -para não se afastar do posto ou fugir da pecha de “deficiente”- faz com que o profissional adie o diagnóstico. Para Maeno, se o apoio dado pela firma na identificação é falho, a reinserção desses trabalhadores é ainda pior, o que resulta em um ciclo de descaso com a saúde do trabalhador. (AR)

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